Antologia organizada por Karina de Oliveira Azevedo, da qual participei com o poema "Separação" (página 28). Prefácio de Claúdio Luis Paschoal: A melhor oportunidade que todo poeta encontra para poetizar é poetizando, ou seja, desafiando a si mesmo com o objetivo de concretizar tudo o que o seu intelecto carrega da atmosfera nobre do verso. Nesta obra sou honrado duplamente, primeiro por Deus, o criador de todas as coisas, o início, o meio e o fim, e em seguida por Karina Azevedo, a pedra preciosa que Deus colocou em meu caminho. Nesta Antologia iremos caminhar de mãos dadas pelas doces trilhas e caminhos dos poemas guardados a sete chaves de poetas e escritores brasileiros que tem na fonte da escrita o formato de expressão do coração. A suavidade da escrita neste momento de tantas incertezas é o combustível que movimenta a engrenagem do amor no coração dos homens, tornando assim a vida mais leve para se viver. Todos nós temos inúmeros poemas que guardamos ao longo do tempo em nossos cadernos ou em nossas folhas matrizes de apontamento, mas nenhum se comparam aos “Poemas que guardei para mim!”.

Em meio a tantos desafios que vivenciamos ao longo dos anos, a COVID-19 chegou ao Brasil (...). Decretou-se a quarentena, o distanciamento social...(...). Medo, insegurança, incertezas e isolamento passaram a fazer parte do cotidiano de todos. Em pouco tempo, começaram a surgir as primeiras mortes, e o que se imaginava que passaria rapidamente, foi se espalhando e se interiorizando (...) O isolamento e o distanciamento social afloraram novos sentimentos e reflexões entre as pessoas: apoio entre amigos, cuidado de familiares, campanhas sociais para ajudar os mais prejudicados. Reuniões e encontros virtuais, videoconferências, aulas por ensino remoto passaram a substituir as formas de trabalho. Crianças em casa, idosos isolados, falta de contato físico, de abraços e de confraternizações afetaram as dinâmicas familiares. A escrita, com seu poder acalentador, nos ajudou a passar por tudo isso. “Histórias de Isolamento: contos, crônicas, desabafos e poemas” vem para unir, mesmo que a distância, essa mistura de sentimentos que foram experimentados no decorrer da quarentena. São histórias que surgiram a partir desse novo contexto, das novas rotinas de vida, com seus anseios, dramas, esperanças e superações, como um testemunho para que as futuras gerações saibam o que vivenciamos e como sobrevivemos. (Texto de apresentação de Amira Medeiros e Karina Azevedo)

TRECHOS DA APRESENTAÇÃO DE IARANDA BARBOSA Quantas Artemísias você conhece? Distraídas mãos masculinas percorrem joelho, ombro, seios, bunda, coxa, vagina... na cozinha de casa, na sala de aula, no escritório, no parquinho, no asilo, no hospital... o balançar do ônibus ou do metrô é desculpa para encostar-se, roçar-se no corpo alheio (...) toques sem consentimento... (...) A sociedade busca sempre um monstro ou um louco para justificar o abuso, o assédio, a importunação, quando na verdade temos o pai amoroso, o filho querido, o amigo de infância, o vizinho prestativo, o padrinho zeloso, o irmão protegido, o avô cuidadoso, o tio que vem nos visitar, o primo distante, o marido fiel, o namorado carinhoso, o padrasto rígido, o patrão exigente, o colega simpático(...)insuspeitos, imputáveis, inocentes... Nos acusam de loucas se gritamos, nos desacreditam se pedimos ajuda, nos condenam se denunciamos, nos ameaçam se delatamos, nos envergonham se reclamamos ...Foi só um beijo roubado, apenas um toque, simples elogio, brincadeira... Mas o corpo profanado com a sujeira alheia é o nosso, a roupa rasgada é a nossa, as cicatrizes (re)abertas são as nossas, os pesadelos na vigília são os nossos, as almas perturbadas são as nossas, os ossos fraturados são os nossos, a vergonha peçonhenta é a nossa, os sonhos adiados são os nossos, as lágrimas represadas são as nossas(...) a vida ceifada é a de todas nós.